Segundo dados do MEC, em 2005 eram 2428 surdos no ensino superior em instituições públicas e privadas. Atualmente na UCS são 12 acadêmicos surdos matriculados nos mais diversos cursos de graduação como Educação Física, Pedagogia, Matemática, Economia, entre outros.
Para muitos professores, ter um aluno surdo em sala de aula é uma experiência nova e o estranhamento inicial é inevitável. Portanto, é muito comum o surgimento de dúvidas sobre como ministrar a aula, mesmo com a presença do intérprete de Libras. Conversamos com o Professor Douglas Pastori (disciplina: História do Design) que neste semestre tem dois alunos surdos em sua turma:
"Primeiramente, é inevitável um certo incômodo pelo enfrentamento com uma situação inusitada. Porém, com a resolução das dúvidas, percebe-se que não é impossível ter alunos surdos em sala de aula. Nesse sentido, é inestimável o auxílio da intérprete, cujo trabalho, para mim, de extrema complexidade, envolve competências e habilidades sem as quais, a pedagogia da inclusão seria impossível.
Creio que os alunos não sofram com dificuldades de tradução, ou seja, devem compreender o conteúdo pois conseguem resolver os trabalhos propostos em aula. (…)
Quanto à práxis pedagógica, preocupei-me inicialmente em mudar o tom de voz, a velocidade de articulação das palavras, procurando, por fim, novos meios para suprir a falta do som como meio de comunicação. No entanto, seguro de que a intérprete conseguia traduzir minha fala nas aulas expositivas, tornou-se um problema inexistente.
Agora, aguardo os resultados dos trabalhos finais, com a certeza de que a surdez não impede ninguém de estudar. Pelo contrário, como barreira inicial, acaba por oferecer estímulos à superação e a resultados inovadores."
Pensar a questão do surdo no ensino superior leva a refletir sobre as dificuldades iniciais, as questões de acessibilidade, o trabalho do intérprete, a integração com os colegas e as adaptações da metodologia do professor. A Professora Ilciane Maria Sganzerla Breitenbach (disciplina: Psicologia de Grupos e Psicologia da Aprendizagem) relata a experiência de ter uma acadêmica surda em duas disciplinas neste semestre:
“Ter a possibilidade de ter uma aluna surda provocou variadas reações. Em um primeiro momento, um certo “susto”. Como farei para corresponder? E atender ao seu aprendizado? Tentei fazer uma mediação com as intérpretes visando entender se a aluna estava correspondendo.. em um dos trabalhos percebi que um dos objetivos dela seria que os colegas se aproximassem mais.. através das dinâmicas procuramos fazer isso.
O que percebi em termos de mudança de relacionamento com ela foi a partir das oficinas, onde a mesma pode se apresentar e se aproximar dessa realidade. Percebeu-se que a grande reação é medo e falta de conhecimento por não saber ter o manejo.
Hoje acredito que contar com uma pessoa como ela, agregou e contribui para aprimorar e agregar a disciplinas, além de despertar e provocar nos alunos uma reflexão para que eles possam realmente ser seres humanos mais conscientes.”
Professores, intérpretes e alunos surdos, juntos, precisam construir estratégias adequadas para fazer frente aos desafios no Ensino Superior. Não há respostas prontas quando se trata de educação: há a aposta de que é possível.
Postagem: Ana Lúcia Gil Terres, Priscila Paris Duarte (Tradutoras/Intérpretes de Libras) e Profª.Cláudia Bisol.
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