Uma destas adaptações provém do Notebook que utilizo na sala de aula como meu caderno eletrônico. Com esse equipamento, posso escrever e realizar a leitura de textos utilizando um programa de voz, também conhecido como leitor de tela. Atualmente, o programa de voz do qual faço uso chama-se NVDA, um software gratuito do qual pode-se facilmente efetuar o download na internet, e que sofre constantes atualizações. Há outros programas de voz semelhantes ao NVDA, como o Jaws e o Virtual Vision, mas muitos cegos têm aderido ao mais recente, o NVDA, devido à sua leveza ao micro e às suas contínuas atualizações. Também é importante acrescentar que, hoje em dia, estão disponíveis no mercado teclados de computador em braile - que é o código de escrita em relevo utilizado pelo cego , mas no meu caso tal tipo de teclado não se faz mais necessário, já que comecei a operar em um computador desde pequeno e assim acabei por decorar a posição das teclas.
Dessa forma, a maioria das minhas aulas ficam registradas em meu Notebook. Quando ocorre uma prova, meu professor geralmente entrega para mim um pen drive contendo o teste, e assim eu o respondo juntamente com meus colegas.
Já no que se refere ao meu deslocamento pela UCS, consigo me localizar com razoável facilidade dentro dos blocos nos quais tenho aula, pois antes do começo de cada semestre, caso eu saiba de antemão que terei de percorrer um novo bloco, faço o reconhecimento espacial do mesmo. Para isso utilizo a bengala, um tipo de vara que nunca deve ultrapassar a altura de meu peito para adequar-se à proporção de tamanho recomendada, e que tem a função de alertar-me quanto a obstáculos e a mudanças de terreno ao longo do caminho, como a presença de um morro ou de uma escada. Em verdade, a bengala é fundamental para o deslocamento do cego em quase qualquer ambiente, exceto no caso de um local que o mesmo conheça bem, como sua própria casa, por exemplo.
No caso de um reconhecimento espacial, porém, eventualmente também é conveniente a presença de uma professora de mobilidade, que inicialmente tem o papel de ensinar ao cego as técnicas adequadas para seu deslocamento independente. Esse profissional é muito importante no caso de cegos que estão começando a deslocar-se independentemente, mas também prestam grande auxílio ao deficiente visual para que este, por exemplo, faça um mapa mental de uma empresa na qual começará a trabalhar ou, no meu caso, da universidade na qual estudo atualmente.
Já o meu deslocamento de um bloco a outro dentro da UCS torna-se um tanto complicado sem que eu disponha do auxílio de uma pessoa vidente, não apenas pela grande extensão da universidade, mas principalmente devido ao fato de eu ter de atravessar ambientes como o estacionamento, que além de ser extenso não conta com pontos de referência que facilitem a locomoção da pessoa com deficiência visual. Sendo assim, num caso como esse recorro ao auxílio de uma pessoa vidente, como já mencionei, pedindo que a mesma permita que eu feche os dedos de minha mão sobre um dos seus cotovelos, para que assim ela possa me guiar, mantendo-se sempre um passo à minha frente, técnica essa que é a mais adequada para que um vidente conduza o cego.
E por fim, é claro, eu não poderia deixar de citar o inestimável auxílio que o Pima (Programa de Integração e Mediação do Acadêmico) presta à minha pessoa dentro da universidade. O Pima, como o próprio nome já diz, vem prestando a mim uma grande ajuda no processo da minha inclusão ao meio estudantil, digitalizando ou gravando os livros ou textos dos quais eu eventualmente venha a necessitar ao longo dos semestres, materiais esses que, geralmente, por serem muito extensos, os professores não conseguiriam disponibilizar para mim no devido tempo. Sendo assim, deixo aqui registrado o meu agradecimento por todo o apoio que o Pima tem me concedido, bem como o meu reconhecimento quanto a excelência da qualidade e da competência do trabalho realizado por este setor da UCS.
Esse é, pois, o panorama geral do meu dia-a-dia nos domínios da UCS como deficiente visual. Até então, como já mencionei no princípio deste texto, em geral tenho me sentido realmente satisfeito com a boa aderência dos meus colegas e professores no que se refere à minha cegueira. É evidente que, eventualmente, desafios surgem pelo caminho, mas a boa comunicação, felizmente, tem se feito presente até então, e os obstáculos vem sendo superados continuamente. Basta que ocorra a disposição de todos os envolvidos a compartilhar o novo, e a compreender as pequenas necessidades e adaptações que permitem a total inclusão da pessoa portadora de qualquer tipo de deficiência, e esta obviamente aprenderá e poderá contribuir tão eficientemente quanto os demais para com a sociedade.
Por Lucas Borba
Acadêmico do 2º Semestre de Jornalismo
Universidade de Caxias do Sul
Parabéns pelo texto Lucas!
ResponderExcluirEsta sendo um aprendizado trabalhar com você!
Abraço,
Glenda.