Liberdade

Liberdade 

Você conhece o Hino da Proclamação da República? A certa altura, diz ele:

Liberdade! Liberdade!

Abre as asas sobre nós,

Das lutas na tempestade

Dá que ouçamos tua voz 

Há quem confunda o real sentido da Liberdade. Alguns traduzem- na como a faculdade de poder ir e vir; outros a vêem como independência, autonomia; outros, ainda, a declaram um direito. Muitas definições poderiam ser apontadas, mas qual seria o verdadeiro significado de Liberdade? Os conceitos citados acima não são equivocados, entretanto, não dizem tudo. E talvez seja mesmo uma tarefa árdua conceituar algo que é tão importante e, ao mesmo tempo, tão mal interpretado.

Pergunte ao presidiário; ele lhe dirá que a Liberdade se encontra além dos muros que o limitam e dos guardas que o vigiam. Esta sim, visão míope da Liberdade, mas para ele é algo maravilhoso mesmo que definido de forma tão simples. Infelizmente, o seu verdadeiro sentido talvez nunca o toque.

Pergunte aos jovens, e a maioria responderá que ter Liberdade é poder fazer o que quiser, ir aonde quiser, com quem e da forma que lhe aprouver. Visão pequena a desses aprendizes da vida. Ser livre comporta mais do que poder freqüentar lugares ou andar com quem tiver vontade. O fogo da juventude traz em si a inexperiência, a curiosidade pelo novo, e é essa curiosidade que, tão tragicamente, conduz muitos aos vícios e más companhias, que destroem a Liberdade que exalto nessas linhas. Liberdade é mais.

Pergunte ao homem mais experiente e ele dirá que Liberdade é poder gozar seus dias plenamente, sem privações, com a estabilidade que lhe foi garantida pelo trabalho. A partir do que conquistou com seu esforço, Liberdade seria estabilidade. Seria obter o que não teve quando mais novo; aquela viagem que tanto sonhou, aquela casa própria que o “liberta” de pagar aluguel... Liberta entre aspas sim, porque Liberdade não se confunde com materialismo. Ter bens não apaga fantasmas internos, não supre carência de afeto, não realiza em si. É como diz o velho ditado “dinheiro não traz felicidade”, não traz.... Liberdade é mais, é mais!

Pergunte ao velho, e ele dirá que Liberdade ele tinha quando mais novo, nos tempos em que não dependia da bengala ou mesmo da cadeira de rodas pra sair do lugar. Para ele, Liberdade é movimento, é autonomia. É trocar de roupa sem que as costas ou o quadril reclamem, calçar seus sapatos sozinho, sair de casa sem ajuda, passar o dia sem ter de tomar remédios - isso quando se lembra, já que a memória costuma falhar... Liberdade é para ele plenitude de vida. Que acertado é o veterano em defini-la tão grandiosamente! Comparando ao que diria o jovem, se constata a incrível sapiência que promove o passar dos anos.

Sem dúvidas que ao deficiente lhe sorri um maior conceito de Liberdade. Vai ao encontro do que disse acima, sobre poder se virar sozinho. Mas traz algo a mais. Liberdade para quem tem uma limitação é não apenas se virar sozinho, mas também romper o preconceito de muitas pessoas que o olham diferente. Liberdade é não ser alvo de olhares curiosos, ou mesmo espantados, já que a desinformação de quem olha conduz à ignorância. O deficiente se sentiria livre não apenas por andar, ou comer, ou falar sozinho. Ser livre para ele é a simplicidade em ser apenas mais um na multidão. Ser acolhido, sem dependência, sem a piedade desinformada dos demais. Liberdade aqui é ser apenas... comum.

Liberdade. Todo aquele que se vê sem ela, roga por libertação.

Minha definição de Liberdade? Atrevo-me a defini-la como paz de espírito, sensação de dever cumprido e de não desistir perante desafios. Liberdade para mim é, sim, me virar sem ajuda, mas também não ser subestimado. Carregar na alma o sentimento de que lutei e luto todo dia, galgando degraus e superando pedras no caminho. Liberdade para mim é rememorar o que passei, respirar fundo e olhar em frente, para a estrada que me aguarda.

Liberdade para mim não cabe em um único conceito. Também não cabe nestas linhas, em que tracei apenas pontos de vista; sou pequeno para encerrar algo que é transcendental em meras palavras.

Porque Liberdade é mais.

*Brayan Chaves Muhlen

Campus Universitário de Vacaria

*Brayan Chaves Muhlen tem 20 anos, é natural de Passo Fundo e atualmente mora em Vacaria. Sofreu paralisia cerebral no parto, por negligência médica, o que resultou em comprometimentos motores e de locomoção. Já realizou cirurgias corretivas nas pernas e hoje está em reabilitação para superar seus limites e andar sozinho. É acadêmico do sétimo semestre do curso de Direito e relata que cada dia mais ama o que faz. Segue batalhando e estudando muito para ser um bom profissional. Almeja Promotoria e pretende lecionar também. Brayan afirma: "Quero fazer tudo o que puder fazer!"

Tradução em Libras do Texto "Liberdade"