O
bilinguismo, na educação de surdos, é uma proposta de ensino usada em escolas
especiais para surdos, que objetiva utilizar com a criança surda duas línguas
no contexto escolar: a língua de sinais e a língua portuguesa. As pesquisas têm
apontado esta proposta como sendo mais adequada para o ensino de crianças
surdas, tendo como foco à língua de sinais como parte de um pressuposto para o
ensino da língua escrita.
Moura
e Vieira (2011) afirmam que o bilinguismo surge como uma proposta de
intervenção educacional com a finalidade de atender as especificidades
linguísticas dos alunos surdos. As autoras destacam que o trabalho com a Língua
de Sinais e a Língua Portuguesa atualmente acarreta uma preocupação de
construção da identidade cultural e social. Na perspectiva bilíngue, a língua
de sinais é caracterizada como língua natural para o surdo e, portanto, sua
primeira língua (L1). A língua
portuguesa, língua oficial do país, na modalidade escrita, deve ser aprendida
como segunda língua (L2).
A
língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea pela pessoa
surda em contato com as pessoas que usam essa língua. A língua escrita, por sua
vez, é adquirida de uma forma sistematizada. A aceitação da língua de sinais
como primeira língua para os surdos fez com que novos processos pedagógicos
fossem criados e pesquisados.
A
Lei nº 10.436/2002 considera a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua
oficial da comunidade surda, defende a educação bilíngue para os surdos e
reconhece a existência da cultura surda. O Decreto Federal nº 5.626/2005
apresenta uma definição de sujeito surdo: “por ter perda auditiva, compreende e
interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura
principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS”.
Segundo
Quadros e Perlin (2007), o processo de alfabetização de uma criança surda deveria
ser em um contexto de entendimento da língua portuguesa como segunda língua,
gerando uma possível leitura do mundo, mas a leitura de mundo precisa acontecer
por meio da língua de sinais. Isto é, só através da língua as crianças pensam e
discutem sobre o mundo estabelecendo noções e organizando pensamentos, sendo
delineado o processo de alfabetização com base na descoberta da própria língua.
Kubaskl
e Moraes (2009) afirmam que “a pessoa com surdez tem as mesmas possibilidades
de desenvolvimento da pessoa ouvinte, precisando apenas que suas necessidades
especiais sejam atendidas.” Para as autoras, a língua de sinais torna-se
necessária para esse processo de aprendizagem, bem como a língua portuguesa. A
L1 servirá de mediadora para a L2, e a alfabetização se dará de forma mais
natural.
Portanto,
o bilinguismo visa a atender as especificidades linguísticas da pessoa surda e
suas particularidades culturais e sociais.
KUBASKI,
Cristiane; MORAES, Violeta Porto. O bilinguismo como Proposta Educacional para
Crianças Surdas. Disponível em:
<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3115_1541.pdf>.
Acesso em: 22 out. 2013.
MOURA,
Débora Rodrigues; Vieira, Claudia Regina. A atual Proposta Bilíngue para
Educação de Surdos em prol de uma Educação Inclusiva. Disponível em:
<http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/seculo/debora_claudia.pdf>
Acesso em: 10 nov. 2013.
QUADROS,
Ronice Müller de; PERLIN, Gladis. Estudos surdos II. Petrópolis, RJ: Arara
Azul, c2007.
REPÚLICA
FEDERATIVA DO BRASIL, Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>
Acesso em: 09 nov. 2013.
Postagem: Caroline Argôlo Almeida –
Intérprete de Libras - UCS.
Saudações à equipe e mais uma vez, realizaram uma postagem muito interessante.
ResponderExcluirEssa postagem vai ao encontro das minhas preocupações, tendo em vista que possuo dois alunos surdos em uma sala com o total de 60 alunos.
Um detalhe que eu gostaria de destacar nessa postagem é este: a leitura de mundo. A pessoa surda, mesmo conhecendo o português como segunda língua, essa sua “leitura de mundo” somente pode ser mais perfeitamente reportada por uma pessoa que tenha também a língua de sinais como primeira língua. Nesse sentido há uma unilateralidade importante: quando dizemos como será a leitura de mundo de uma pessoa surda, não sendo surdos, ficamos sem uma perspectiva inteiramente confiável. Pois, a leitura de mundo vai sempre depender da primeira língua, seja essa primeira língua o português, seja essa primeira língua, a língua de sinais. Por isso, a melhor consideração sobre o assunto, seria aquela referida por uma pessoa que tivesse a língua de sinais como primeira língua. Esse assunto é particularmente interessante: vamos supor que eu aprenda mandarim. Mas como será que eu aprendo e compreendo o mandarim? De forma instrumental? Ou através do conhecimento do mundo chinês? Se for de uma forma instrumental, essa será incompleta em algum ou outro sentido. Se for através da relação com o mundo chinês, ela será mais ampla, mas mesmo assim, não serei um chinês. Nesse caso eu poderia ser alguém que durante toda a vida estivesse na China, mas que nunca seria um chinês. Nesse exemplo fica claro a unilateralidade que exerce uma primeira língua. Parabéns pela postagem, pois possibilita esse tipo de reflexão, a qual, devo prosseguir, em outro local, talvez em um texto.
Prof. Itamar.